Figura de Capitão Alves

A tragédia do Capitão Alves

Esta é uma história de luta.

João Machado Alves (1821-1893) foi merceeiro na Vila das Lajes do Pico. A mercearia João M. Alves & Ca. vendia alimentos, especiarias e pequenos artigos de uso doméstico numa casa mesmo à boca do porto das Lajes, atual restaurante Whale’come. Quando nasceram os filhos decidiu aumentar o negócio mandando construir um iate de cabotagem, de nome “São João Baptista”. A demora na construção, natural naqueles tempos, deu para perceber que o filho João Machado Alves Júnior (1848-?) não tinha apetências de marinheiro, preferindo o negócio da mercearia. Foi a filha Angélica da Glória Alves (1863-1938) que apresentou a solução casando com João Vieira Alves (Capitão Alves), um verdadeiro lobo do mar (1845-1909).

Capitão Alves e três dos seus irmãos fizeram o serviço de transporte de mercadorias, da mala do correio e de passageiros entre as ilhas dos Açores a bordo do pequeno navio de dois mastros latinos. O negócio corria bem.

Reza a história que tudo terminou a 28 de agosto de 1893 quando uma das mais trágicas tempestades de que há memória nos Açores atingiu o Grupo Central, provocando a morte de muitas pessoas. Ventos de 170 a 200 km/h assolaram a Vila das Lajes com ondas enfurecidas a atingir os 30 metros e a varrer todo o porto e as imediações, destruindo casas, muros e barcos.

Capitão Alves e os irmãos ainda conseguiram amarrar o “São João Baptista”, mas quase perderam a vida abordo. Já um dos tripulantes do iate “Espírito Santo”, também varado na baía das Lajes, não conseguiu chegar a terra. Foi visto pela última vez sobre um ilhéu a pedir socorro.  Melhor sorte teve um tripulante do iate “Bom Jesus”, com apenas 16 anos que não sabendo nadar teve de ser salvo pelo pai.

Em terra, João Machado Alves viu o quebrar das amarrações do iate “São João Baptista”, fundeado na baía das Lajes, e assistiu ao arremesso da embarcação contra uns baixios. No desespero, deixou-se levar por uma das ondas… Tinha 54 anos.

A tempestade queimou os milhos dos campos, provocando, nos anos seguintes, muita fome e doença. Capitão Alves foi um deles. Sem barco e negócio, adoeceu acabando por falecer com 64 anos de idade. Sem futuro à vista, o seu filho Manuel Vieira Alves dá o salto para a América um ano depois. Regressa passados oito anos com fortuna.

Sandra Cristina Sousa

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