João Machado Alves (1821-1893)

Não somos mainstream

No último meio século a Vila das Lajes transformou-se. Passou de um dos maiores polos comerciais dos Açores a uma das mais pacatas vilas da Região.

Nesta baía circularam grandes vapores e baleeiras, aconteceu a cabotagem marítima, a atividade baleeira, a indústria conserveira e a pesca do atum.

Na vila fervia a atividade comercial, empresarial e industrial, já com o sector secundário instalado com ferreiros, carpinteiros, serralheiros e outras atividades associadas à construção naval. Exemplo disso é a construção do primeiro bote baleeiro açoriano.

Não há muito tempo, o meu vizinho da frente, António Manuel Garcia, contava-me que “em todas as portas desta vila havia um comércio. Esta minha casa, por exemplo, tinha a loja do Gualter a vender botas e bicicletas e aqui ao lado tinha o relojoeiro.”

Na “Rua Direita”, na Vila das Lajes, desde a matriz ao cruzeiro chegaram a existir cinco mercearias ao mesmo tempo.

O meu vizinho ainda me contou que “numa vila tão pequenina como esta, a empresa Edmundo Machado Ávila chegou a abrir uma loja em cada ponta da rua para fazer concorrência à mercearia do Senhor Cavalheirinho. Na altura, este senhor tinha uma grande loja que eu, em rapaz, achava um grande luxo. Ficava onde hoje estão os correios.”

Contou-me há dias, outro amigo, Artur Xavier Soares que por essa mesma altura, o rés-do-chão da casa do Senhor Rodriguinhos, estava ocupado pelo jornal “O Dever” e pela loja de fazendas e de mercearias do Senhor Silvino.

“Era assim! Não havia uma porta que não tivesse uma atividade comercial”, disse-me António Manuel Garcia há uns tempos.

Hoje, contam-se pelos dedos das mãos os comércios da mesma “Rua Direita”.

Definitivamente, não somos mainstream.

Imagem (direitos reservados)

Mercearia João M. Alves & Comp. de João Machado Alves (1821-1893).

Uma das primeiras da Vila das Lajes onde se vendia medicamentos, especiarias, alimentos e pequenos artigos de uso doméstico.