O preço da liberdade

Esta foi a farda que Manuel Vieira Alves usou na Primeira Grande Guerra (1914-1918). Um dos muitos açorianos que para obter cidadania americana enfrentou uma Guerra que não era sua. Defendeu a bandeira de outro país, pondo a sua vida em risco por melhores condições de vida.

Com 14 anos, Manuel Vieira Alves deixou as Lajes do Pico de “salto”. Uma expressão comum nos Açores, para descrever os que conseguiram atravessar o Atlântico a bordo de baleeiras americanas, trocando a viagem por trabalho gratuito a bordo.

Um ano depois atracou no porto de Boston, em Massachusetts preferindo seguir viagem ora a pé, ora a cavalo, até ao centro-oeste. Ficou pelo Estado de Iowa, durante dez anos, a trabalhar como pastor enfrentando fortes tempestades de frio. Em abril de 1914 foi o poster do “Uncle Sam” que lhe mudou a vida: alistou-se como clandestino no exército americano recebendo a cidadania.

Juntou-se às tropas americanas disposto a combater os alemães, na invasão à Flandres, num ambiente de enormes conflitos entre as grandes potências do mundo. 

Estava longe de imaginar que iria enfrentar a pior das guerras com armas químicas e novos armamentos. Destacado para as trincheiras, acabou por ser atingido por uma granada que o deixou parcialmente queimado do lado direito. Foi dado como morto nas listas do livro militar e o seu corpo foi levado entre muitos outros para um dos hospitais de campanha.

Ali, foi rebuscado por um amigo e tratado durante dois anos. Estava sem parte da cara, da mão e com o corpo coberto de estilhaços. Recuperou num ambiente frio e de muita fome. Quando regressa aos Estados Unidos da América, sem o olho direito, recebe não só a cidadania prometida como ainda uma boa pensão de invalidez militar.

Finalmente regressa aos Açores encontrando a família enlutada e já sem bens.
Sem rancores retomou a vida na ilha, casando, tendo cinco filhos e participando no crescimento da sociedade local.

Sandra Cristina Sousa

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  • […] acabando por falecer, pouco tempo depois, com 64 anos de idade. Sem futuro à vista, o seu filho Manuel Vieira Alves dá o salto para a América um ano depois. Regressa passados oito anos com […]

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