O motor do Engenho

A fotografia é de 1912 do dia em que ficou concluída a montagem do motor a vapor da primeira moagem a trigo da Ilha do Pico.

Há mais de 100 anos não havia indústrias nos Açores, nem tão pouco eletricidade. Imagine-se montar esta maquinaria, num anexo de casa, aparentemente complexa, pesada e equipada com uma chaminé industrial. A parede que vê ao fundo é a da lateral do Engenho. Os barrotes seriam já os alicerces para a meia-água que veio a ser construída para cobrir o motor.

Mas, esta era uma tarefa apenas possível para pessoas com condições financeiras, como um médico por exemplo. O historiador e jornalista Ermelindo Ávila contou-me aqui há uns anos que naqueles tempos os médicos dedicavam-se a tudo. Quem tinha dinheiro é que investia. E na verdade assim foi.

Maria Vasconcelos Machado Menezes, neta do histórico construtor do primeiro bote baleeiro açoriano – O Experiente, com os seus 93 anos e uma memória invejável, identificou nesta fotografia José Maria Soares de Melo. Reconheci-lhe os traços. É o meu Tio Juca. É o único homem vestido de branco e está rodeado de mecânicos e crianças. Maria Menezes ainda não era nascida por estas alturas por isso não tem memórias destes negócios das famílias, só se recorda que o Tio Juca era médico licenciado na Madeira e que trabalhou nas Lajes.

Mas a moagem de farinha de trigo foi um negócio ativo. Ermelindo Ávila contou-me ainda que a farinha era vendida para os comércios locais das ilhas do Pico e São Jorge. Era guardada em arquibancos e barricas, pesada ao alqueire, meio alqueire e à quarta.

José Maria Soares de Melo casou nas Lajes com Lucília de Melo fez família, mas alguns anos mais tarde é transferido para o Posto de Saúde das Velas da Ilha de São Jorge como Delegado de Saúde. Na impossibilidade de manter a moagem, desmonta e vende o motor e anos mais tarde vende o edifício a Manuel Vieira Alves, bisavô do Mauro.

nota: José Maria Soares de Melo era filho de José Maria Melo, natural das Bandeiras e de Amélia Clotilde Machado Melo, natural das Lajes.

Sandra Cristina Sousa