Lajes do Pico 1960

Quando as crianças brincavam nos caminhos

Em pouco mais de 100 anos, entre 1587 e 1695, a Ilha do Pico triplicou de população. De tal maneira que esta ilha se manteve no 3.º lugar da tabela demográfica dos Açores durante algum tempo. Isto só aconteceu porque “um imenso chão de pedras negras acolheu desde cedo o cultivo da videira, originando a arrecadação de muito vinho, excedendo as necessidades do consumo local e demanda a bertura da exportação.” Todos sabiam produzir vinho, tratar da terra, levantar uma parede… “amanhar-se” com o que a ilha tinha.

Com os adultos a trabalhar, as crianças eram deixadas a brincar pelas ruas. E não foi há muito tempo que deixámos de ver grupos de rapazes pela na Vila das Lajes até ao cair da noite.  Às vezes lá chegavam a casa com um ou outro arranhão ou, até mesmo, com um valente puxão de orelhas de um vizinho por ter partido um vidro de uma janela. Tudo fazia parte do processo de aprendizagem e de crescimento, em que toda a comunidade participava, de uma maneira ou de outra, na formação das crianças.

Mas se antes as famílias se concentravam em maior número nos centros urbanos, porque as terras eram para cultivo, hoje os mesmos centros estão de uma forma geral vazios. As famílias preferem novas construções, em espaços amplos, e as crianças são deixadas à mercê das novas tecnologias e de brinquedos comprados em superfícies comerciais.

Não há convívio com outras crianças e, mais importante, não existe a passagem de testemunho entre gerações. Infelizmente quando chegam à adolescência conhecem apenas a realidade que vêm na televisão ou nas redes sociais e desconhecem a que as rodeia.

Hoje, os centros urbanos de vilas como a das Lajes são espaços tranquilos e pacíficos para um visitante deixar a sua criança brincar pelos caminhos.

Descrição da fotografia (Direitos Reservados): Criança a brincar com carrinho de madeira, de construção artesanal, na Rua Padre Manuel José Lopes, na Vila das Lajes do Pico (1960).

Sandra Cristina Sousa