O Salto Americano

Porque tantos açorianos imigraram para os EUA quando geograficamente as ilhas dos Açores estão mais perto do Continente Português e da Europa?

É simples! A oportunidade surgiu-lhe à porta ou melhor, à costa.

Tudo começou nos finais do Século XVIII quando as baleeiras americanas acostavam nas ilhas dos Açores, principalmente no porto da Horta (Ilha do Faial), e no porto de Angra do Heroísmo (Ilha Terceira), para reparação de velas e abastecimento de mantimentos. Os tripulantes estavam cansados ou doentes, de longas viagens ao Alaska ou ao Pacífico, e acabavam por recrutar, às escondidas, mão-de-obra local. O recrutamento era simples: à noite, as baleeiras procuravam a luz de fogueiras acesas junto à costa. Era o sinal de que locais estavam disponíveis para o trabalho. Saltavam a bordo a troco da viagem, pão e água.

Curiosamente, poucos eram marítimos. A maioria estava habituada aos trabalhos da terra, mas procuravam melhor vida, face aos anos de fome e doença provocados pela seca nas ilhas. Por isso, as viagens não eram fáceis para estes homens.

Uma vez chegados à América optavam pela vida da terra, maioritariamente na Califórnia onde havia muita disponibilidade de terrenos.

Mas muitos açorianos escolheram a vida no mar. No Século XVIII quarenta por cento da tripulação das baleeiras americanas era portuguesa. A partir de 1920 este número aumentou para sessenta por cento. A maioria dos barcos americanos tinham capitães açorianos.

A prova está na ala açoriana (Azorean Whaleman Gallery) do New Bedford Whaling Museum. Aqui encontramos o primeiro marinheiro português de uma baleeira americana, Joseph Swazery (1765) e o primeiro capitão açoriano da baleeira americana, Bark Perry, Frederick Joseph (Ilha do Faial).

Os registos mais antigos pertencem a um armazém de abastecimento a baleeiros de Joseph Vera (José Vieira Dias), das Lajes do Pico. A primeira entrada no livro de registos de encomendas é de Manoel d’Sousa Bettencourt (28 de julho de 1954). A lista de encomendas inclui: “1 colete de setin”, “sirollas e camiza algodão”, “1 lenço d’algibeira”, “1 cacimbo e 1 garrafa bia de Funeral” e “sigarros”.

A saga açoriana está inclusivamente registada na obra Moby Dick, de Herman Melville. Daniel é o nome do marinheiro açoriano (Ilha do Corvo) que integra a tripulação do Capitão Ahab, a bordo da baleeira Pequod.

Outro açoriano que deu “O Salto Americano”.

Sandra Cristina Sousa