Enxutadeira

Enxotadeiras

Como na Ilha do Pico nunca houve muita produção de cereais, o pouco que havia era protegido como se de ouro se tratasse.

Por isso, durante os meses de crescimento do trigo, eram montados no centro dos campos os “poleiros”, postos de vigia, com dois metros de altura. Ali permaneciam as “enxotadeiras”, raparigas que passavam o dia a afugentar aves dos campos de trigos, principalmente no lado Norte da ilha.

Subiam para o patamar por uma escada de pau de faia e ali reservavam, à mão, vários objectos que produziam barulho intenso para afugentar os pássaros como, por exemplo a funda, feita com um pedaço de pele de porco presa a dois atilhos do mesmo material e que servia para arremessar pedras, a matraca composta por uma tábua mestra à qual era atada outras duas de cada lado e emitia uma som ensurdecedor, e um conjunto de cordoaria que fazia accionar à volta do terreno bandeirolas e guizos chocalheiros, espantalhos a imitarem os humanos e grandes latas com algumas pedras da costa dentro.

Era um trabalho árduo, debaixo de sol intenso e solitário.

O pagamento: um saco de trigo aquando da safra.

A farinha resultaria em “pão alvo” para os dias especiais do ano, como a matança de porco, a consoada ou festa do Espírito Santo.

Sandra Cristina Sousa