A mulher das sete saias
Luisa Inácia viveu 100 anos (1834-1934) e ainda hoje é muito lembrada pelos seus atos. Era conhecida por “Luísa do José António” apesar do marido se chamar António Machado Alves (1829-1898).
Seria uma mulher como outra qualquer não fosse ela contrabandista.
Negociava a compra de tabaco americano, nas baleeiras no porto da Horta, e regressava à Vila das Lajes com os sacos escondidos, nos bolsos estrategicamente cosidos, no interior das sete saias que usava como disfarce.
Luísa, não só tinha jeito para o negócio como muita necessidade. O marido não conseguia trabalhar nos campos devido a uma enfermidade física, eram os cinco filhos que iam dando conta do recado. E por isso, os extras eram mais que bem-vindos.
Certa madrugada, um fiel informador bateu-lhe à porta para avisar que a Guarda da Alfândega estava a caminho. Vinham a casa da “Luísa do José António” e se encontrassem contrabando tinham ordens de prisão.
– Ara, os lepras!
Luísa Inácia não se fez de modas, pegou num pote de barro com uma tampa de madeira, encheu-o de tabaco e fingiu ir buscar água ao poço de maré da vila, conhecido como o Poço da Rochinha. Só que ao invés de ir buscar água, despejava o tabaco. Repetiu esta tarefa, as vezes necessárias, até que retirou todo o tabaco de casa e o despejouno poço.
Dizem que a Guarda esperava o pôr-do-sol, ao fundo das escadas da casa e quando Luísa Inácia passou a última vez com o pote ainda disse:
– Parece impossível! Uma mulher já nem pode fazer o governo da sua casa descansada!
Os homens da Guarda entraram casa dentro, procuraram e procuraram e nada encontraram.
Nem tabaco, nem água!
nota: Luísa Inácio foi avó de Edmundo Machado Ávila, dono da conhecida mercearia no centro da Vila das Lajes (1895-1975)